QUEBRANDO PARADIGMAS
Seis meses antes do aniversário, levei Laura para escolher um vestido para sua festinha. Sim, uma festa de quinze anos! Ela experimentou três modelos e foi o máximo que conseguiu. Ficou linda nos três vestidos. Escolhemos um modelo curto, simples, cor de rosa pink. Sapatos de salto baixo, brancos. Ela não fala, mas podia ler sua expressão. Ela gostou. Durante os seis meses de vez em quando a lembrava que teria uma festa. Quando faltava um mês eu a levei para conhecer o salão. Laura entrou e embora estivesse tudo fora do lugar, adorou. Eu não sabia se ela conseguiria entrar e participar da própria festa. Eu não sabia. Na semana que antecedeu o aniversário ela foi ficando nervosa. Dois dias antes experimentou o vestido e estava uma pilha. Eu também! Sabia que estava fazendo o que dificilmente alguém com uma filha autista clássica faria. Eu quebrava um paradigma. Laura merecia uma festa de quinze anos como qualquer outra menina, eu pensava. A única certeza era que a Laura colocaria sim o vestido porque era o que mais tinha gostado. Ela se olhou no espelho e gostou. Mas as luvas, sapatos, coroa, make, tudo era dúvida. Ela já havia feito make, mas era para outros fins, não para uma festa onde seria destaque. Combinei tudo com a cuidadora dela e sábado depois de pronta fui para recepcionar os convidados juntamente com o pai dela. Eu não sabia como minha filha entraria. De pés descalços? Sem make? Sem coroa, luvas, joias? Eu só queria que ela viesse. Só isso. E ela veio. Foi muito difícil descer do carro. O irmão abria a porta, ela fechava. Várias vezes. Até que convencida pelos irmãos desceu. E eu a vi entrando, linda de vestido rosa pink, sapatos brancos, luvinhas. Caminhava entre seus irmãos que a conduziam carinhosos. A menina moça que ali entrou era uma menina autista, com andar e atitudes autistas, todo um comportamento autístico. Mas era uma menina moça que fazia quinze anos. Uma menina moça que ama as músicas do Bruno e Marrone, que adora se olhar no espelho, que adora se ver bonita, que adora vestidos, que adora praia! Era acima de qualquer outra coisa, uma menina moça, digna de sua festa de quinze anos! Lu Ar
Enviado por Lu Ar em 31/01/2015
|