A noite estava escura e eu e a Laura vinhamos de mãos dadas pelo lado da casa. De repente sem querer, pisei no pé dela. Ela parou de súbito e disse rindo: "Quem fez isso"? Fiquei olhando seu rosto na penumbra e vi o branco dos dentes iluminados pela lua e um brilho divertido nos olhos. Ela perguntou de forma tão clara e natural. Uma enorme alegria entrava no meu cérebro junto com a pergunta e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa ela perguntou rindo divertida:  "Foi tu que fez isso"?  Eu comecei a rir junto com ela e respondi: "Foi sem querer".  E entramos na casa pela porta da cozinha rindo alto, barulhentas. No meu pensamento uma frase dançava, bailava e se agigantava: "Ela está falando! Laura fala! Eu sabia!". Então lembrei que éramos hóspedes de um casal de idosos que àquela hora já estava dormindo. Seguimos de mãos dadas agora pelo corredor em direção ao quarto deles. A porta estava aberta e eu espiei. Como havia previsto a senhora estava olhando pra porta com a cabeça levantada e olhar interrogativo. O marido dela continuava dormindo. Pedi desculpas e ia me afastar dali quando abri os olhos de repente. Uma dor contraiu meu estômago e uma angústia agora muito real invadiu o meu peito.  Eu estava deitada na minha cama, no meu quarto.  A realidade se fez presente. Dolorosamente repeti pra mim mesma "Foi só um sonho". E depois de uma meia hora, conversando comigo mesma para acalmar meu coração, muito mais calma, voltei a dormir.
Hoje, de manhã já mais consciente lembrei do sonho sem sofrer. Foi só um  sonho. Um sonho bom.