Lu Ar

Sentimentos e poesias

Textos


Aventuras de mãe de autista


Dez e meia avisei pra Laura que estava indo deitar. Ela estava escutando música, sentada na cama já com evidentes sinais de sono. Ficou feliz quando me viu com o pijama dela nas mãos. Ambas vestimos nossos pijamas e nos enfiamos embaixo das cobertas. Eu, louca de frio. Mas a Laura não deitou. Ficou sentada. Convidei-a pra deitar, dei muitos beijinhos e ela ria divertida. Mas continuou brincando com os cadarços do tênis. A Mel, nossa cachorrinha, deitou na cestinha e logo já escutei os roncos. Sim, ela ronca. Eu ronco. A Laura ronca. Aqui todo mundo ronca.
Resolvi jogar uma canastra no celular esperando a Laura deitar.
Meia hora depois ela levantou. Perguntei se estava sem sono. Ela fez a volta na cama em minha direção. Brinquei: "Não, não Socorro!" Pensei que fosse me pedir pra ligar o som. Mas pra minha surpresa virou as costas se aproximou da cômoda e escutei o barulho de um jato de água caindo. Não quis acreditar. Em seguida, ouvi o barulho de outro e outro. Laura vomitava incontinente. Corri e ela também correu pro banheiro. Mas não deu tempo e saiu outro jato e mais outro. Com cuidado tirei o blusão do pijama e lavei o rosto e as mãos dela. Rápido peguei um copo com água e dei.
Olhei para o corredor e vi a Mel enfiando o focinho e as orelhas naquela gosma. Depois de limpar e arrumar a Laura fui limpar tudo. A cômoda estava suja de cima abaixo. Tinha um porta retrato, meu álbum de fotos, uma blusa, umas oito revistas e um livro. Tudo nadando. Resolvi limpar o chão. Enquanto limpava distraída veio na lembrança a última música que Laura ouvira do Leonardo, e quase sem querer comecei a cantar: " garçom amigo, apague a luz da minha mesa..."
"Não acredito que estou cantando !" E comecei a rir.
Olhei no relógio. Meia-noite e meia.

 

Quando aceitamos responsabilidades os desafios tornam-se mais leves. Logo depois do susto e da surpresa, vem a única probabilidade: continuar. Talvez por isto e até para minha surpresa, eu comecei a cantar enquanto limpava. 

Eu moro sozinha com a Laura então passamos juntas pelas dificuldades que vão surgindo sem o olhar de piedade de ninguém, porque este tipo de olhar aniquila a gente! Talvez por isto eu consiga levar com bom humor na forma do possível. E também porque o bom humor faz parte do meu eu! 

 

Lu Ar
Enviado por Lu Ar em 09/08/2016
Alterado em 24/01/2024


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