Lu Ar

Sentimentos e poesias

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AMOR DE PAI

Amor de pai

Meu primo nunca quis estudar. Não sei se por alguma dificuldade ou por malandragem mesmo. Sem estudar e sem trabalhar, infelizmente desviou-se por caminhos tortuosos onde se perdeu. Tornou-se drogado e por fim, marginal. Apesar disto, nunca esteve preso. Porém toda a família sabia e assistia sem saber o que fazer, aquele deslizar sem volta para o fim de uma vida tão jovem.
Os pais, analfabetos, por puro instinto tentavam de todas as formas, salva-lo. Em vão.
Lembro que durante o carnaval, eles sempre o levavam para uma vila bem afastada da cidade situada próximo á fronteira com o Uruguai. Lá, longe da violência que vigorava durante o carnaval, eles tentavam desesperadamente proteger o filho querido. Eles tentavam evitar o inevitável. E sabiam disso.
Quando voltavam pra casa, a vida transcorria dentro do que já era normal. Objetos e dinheiro que sumiam. O filho que desaparecia por um ou dois dias e eles sem saber se voltaria com vida.
Sempre que voltava, meu primo dormia até o meio dia. Mas lá pelas nove horas da manhã, meu tio preparava um café com leite, frutas e torradas e levava pra ele na cama.
Pedro, este era o nome dele, tomava e depois continuava a dormir. Um dia, alguém perguntou: “Por que o senhor faz isto?” Meu tio respondeu: “Porque não sei por quanto tempo terei meu filho comigo. É o mínimo que posso fazer por ele.”.
Meses depois, numa noite em que houve um grande assalto a uma joalheria, Pedro morreu assassinado, gerando grande dor para sua família. 
Quanta sabedoria tinha aquele pai. E quanto amor guardava no coração por aquele filho. O filho que Deus lhe confiou a educação e cuidados e que ele levou a cabo até o final, malgrado todas as desventuras!

Lu Ar
Enviado por Lu Ar em 11/12/2009
Alterado em 26/01/2023


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